6.24.2011

Verão, eu cego

Os pequenos ódios de cada dia. As pequenas doses de falsidades e todas as desculpas lavadas. Tudo somado às afirmativas faladas no lugar das negativas sentidas. O mundo seria um lugar melhor se fossemos mais burros. Seria melhor, se eu fosse mais burro. Estou cansado desta vida de aceitação, temperança e comedimento. Estou cansado de fazer vontades e abrir mão das minhas. Sou sedento, sempre fui. Desejo tudo sempre, sem mesmo saber o que desejo. Quero de volta o meu excesso. Quero de volta a minha alegria roubada por sua infinita tristeza e egoísmo. Odeio sua imagem no espelho, não me vejo mais nela. Fui inteiro um dia e pelos anos fui quebrando pedaços, presenteando estranhos, dando. Continuo lascando migalhas do resto deixado e depositando ao seus pés frios, altar profano e sem sentido. Vazio, sem fé ou esperança. No fim, ex-votos. O verão chegou por aqui e não renasci. Não vejo a luz.

Um comentário:

Anônimo disse...

Do que dissestes, alma fria,
Ja nada vos acode mais?...
Éramos sós... Fora chovia...
Quanta ternura em mim havia!
(Em vós também... Por que o negais?)

Hoje, contudo, nem me olhais...
Pobre de mim! Por que seria?
Acaso arrependida estais
Do que dissestes?

É bem possível que o estejais...
O amor é cousa fugidia...
Eu, no entretanto, que em tal dia
Gozei momentos sem iguais,
Eu não me esquecerei jamais
Do que dissestes.
(Manuel Bandeira)

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