7.19.2010

Um belo desastre

A vida me leva de encontro a um belo desastre. Minha trajetória é precisa, certeira e segue o curso há muito colocado em movimento. Sinto nas carnes a inércia. Sinto em cada fibra o acúmulo da energia potencial gerada pela cinética da vida. O movimento das coisas, as coisas nelas mesmas, as coisas em mim. Meu passado virando algo novo, meu presente virando passado e eu virando o novo. Seu futuro. No meu turbilhão dou de cara com um poema da minha amada Emily Dickinson. Amor que divido com mais alguém.

“One need not be a chamber to be haunted,
One need not be a house;
The brain has corridors surpassing
Material place.”
Emily Dickinson

Nas suas letras, todas escritas sobre sua vida e suas dores, ela sussurra em meu ouvido suas verdades enquanto dobro camisas ou acho lugares para as meias e esperanças. Em meio a tudo isso, sobra espaço para guardar meus pedaços e pedaços outros. Aqueles outros de todos os meus eus. Eu muitos e, as vezes, nenhum. Verdades escondidas em pequenas mentiras. Sou um desastre de luzes invertidas, sou a definição do meu passado. Porém, diferentemente de muitos eu segui as palavras de Wendell Berry, sou a definição do melhor do meu passado. Fiz dele o melhor de mim, deixei para trás o que dele não faz e fazia bem a ninguém, nem a mim. Sou um desastre ambulante, cheio de vida, de amores e de coisas boas para dar. Sou seu amigo, sou seu irmão, sou seu amante e confessor. Sou meu pior inimigo. Sou um pecador. Cada pecado e segredo tatuado, tudo divido e declarado. Grito ao mundo quem eu sou. Sou vivo, estou vivo e vou em direção a um belo desastre, minha vida.


A imagem acima é uma pintura chamada "The Weight Of Water" feita por Christopher Orr. Hoje, para mim, ele é um dos pintores mais intrigantes no mundo da arte contemporânea. Sim, ele não esta sozinho nesta lista. Porém, suas telas - sempre muito pequenas - apresentam um mundo estranho que me leva a pensar sobre o surrealismo e outros mundos. Minha surpresa ao olhar para as suas pinturas é o fato de que eu acabo sempre por entrar em seu mundo. Sempre acabo por cair sob seu encanto, quer seja por gostar ou odiar. Este quadro em particular é um dos meus prediletos e não poderia deixar de dividir com vocês. Então, quer ter um em casa? O marchand d'art que o representa está logo ali do lado em Londres e pode ser encontrado aqui. Boas compras!

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro
Percorrer, correndo, corredores em silêncio
Perder as paredes aparentes do edifício
Penetrar no labirinto
O labirinto de labirintos
Dentro do apartamento

Sim, eu poderia procurar por dentro a casa
Cruzar uma por uma as sete portas, as sete moradas
Na sala receber o beijo frio em minha boca
Beijo de uma deusa morta
Deus morto fêmea, língua gelada
Língua gelada como nada

Sim, eu poderia em cada quarto rever a mobília
Em cada um matar um membro da família
Até que a plenitude e a morte coincidissem um dia
O que aconteceria de qualquer jeito

Mas eu prefiro abrir as janelas
Pra que entrem todos os insetos

(Caetano Veloso)

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