8.25.2010

Essa tal sustentabilidade No.1

Com que roupa...


"Dentro de um caixote ou dentro de um móvel de ébano precioso vou pôr a guardar as vestes da minha vida. As roupas azuis. E depois as vermelhas, as mais belas de todas. E a seguir as amarelas. E por fim de novo as azuis, mas muito mais desbotadas estas últimas do que as primeiras.Vou guardá-las devotamente e com muita tristeza. Quando vestir as roupas negras e quando morar dentro de uma casa negra, dentro de um quarto escuro, abrirei de vez em quando o móvel com alegria, com desejo e com desespero. Verei as roupas e lembrar-me-ei da grande festa - que será nesse momento de todo finda. De todo finda. Os móveis espalhados desordenadamente dentro das salas. Pratos e copos partidos no chão. Todas as velas gastas até ao fim. Todo o vinho bebido. Todos os convidados idos. Cansados alguns estarão completamente sozinhos, como eu, dentro de casas escuras - outros mais cansados terão ido dormir."

As palavras foram roubadas de Konstandinos Kavafis e escritas em Vestes. A imagem é de Leonilson, o maior em dizer em cores as verdades da minha cabeça do meu coração.

8.10.2010

Quero o amor que mata

"O PERIGO: minha intenção real é prosperar no que me é alheio, até que tudo se transforme num grande absurdo, numa história que perde seu começo e termina mal. o que realmente me interessa pode ser considerado capricho e vaidade sem futuro. admito que só mesmo o que não presta me tráz sentimentos vitais e calores que perduram por dias, alimentando vontades esburacadas. tenho me repetido, há muito tempo tenho me repetido, seja por palavras ou atos indisfarçáveis. mas preciso continuar, mesmo que o assunto seja o mesmo. os caminhos errados e efêmeros são os únicos capazes de aliviar meu cansaço eterno e triste. perdi uma parte importante no que diz respeito ao entendimento comum do que é nobre e certo. sou leal comigo, assumo máculas e pedaços perdidos que não fiz e nem faço questão de resgatar. quero o que se estraga e não dura, mas também desejo o interminável e para sempre. têm momentos em que penso que a calma e a estabilidade poderiam me preparar melhor e me trazer algum conforto. mas logo lembro que minhas escolhas deficientes são meu único privilégio numa vida que considero tola. pode soar como desespero, mas é só honestidade e insatisfação. não vou me reconhecer em nenhum outro caminho, mesmo este sendo o melhor pra quem me assiste e se lamenta por amor. o amor entrou em mim pela porta dos fundos e se alojou em meio a sujeira e a beleza que inventei existir. não vou tentar outras vias nem fabricar razões que não sejam as minhas próprias. sou amoral em relação aos sentimentos. amo, me sujo, odeio, me arrependo, amo de novo e não cumpro minhas promessas. não vou cumprir, mesmo que continue prometendo, e isto vai acontecer, não cumprirei. estarei sempre indo em direção ao que, em tese, não deveria me servir e que é justamente o que me serve. vou me enforcar para atender expectativas e depois vou viver de novo. existir não é justo. é mesmo muito perigoso ser feliz."

Palavras roubadas daqui e belamente escritas por Ivana Debértolis que é "existencialista com toda razão, só faz o que manda o seu coração..."

A imagem é de David LaChapelle e intitulada Orgy in still Maybach

8.08.2010

Pausa inacabada


Coisas Acabadas
"Dentro do medo e das suspeitas,
com mente agitada e os olhos aterrados,
fundimos e planejamos o que fazer
para evitar o perigo
certo que desta forma horrenda nos ameaça.
No entanto equivocamo-nos, não está esse no caminho;
falsas eram as mensagens
(ou não as ouvimos, ou não as sentimos bem).
Outra catástrofe, que não imaginávamos,
brusca, torrencial cai sobre nós,
e desprevenidos - como teríamos tempo - arrebata-nos."
Kavafis
***
Desprevinido abri a porta e na confusão encontrada dei falta das coisas todas que iriam abrir-me novamente as portas do mundo. Imensa castástrofe, tão grande quanto a de Kavafis e também não imaginada. Juntamente com tudo que era meu - letras, tese, memórias, computador, sonhos - levaram o meu passaporte. Pensei que iria partir para outra terra, sobrevoar o oceano, chegar em outra cidade. Chegar na hora marcada. Desilusão. Furtaram o meu presente, mas não destruíram meu futuro. O luto é para cada esforço, cada letra, cada frase do meu trabalho apagado. Jogado por ai sem valor, dizimado. Neste pequeno recanto em que me escondi não há partida. Lugares novos não vou encontrar, não encontrei aqui outros mares. Nesta cidade fui obrigado a ficar. Perambular de volta pelos caminhos - os mesmos -, errante passeio. Para onde quer que eu olhe, para onde quer que siga tudo me é gris e estagnação. Cada esforço agora e para repetir passos há muito dados e me entregar. Não estragar anos. Ironia, na véspera da minha viagem, invadiram a minha morada e levaram mais do que meus pertences. Violaram os meus sonhos, rasgaram minha passagem e enterram meu coração. Nunca havia sofrido violência alguma nesta terra e ainda não sei bem ser vítima. De concreto, o Boletim de Ocorrência No. 5125/2010 emitido no 5o. D.P. na Aclimação e minha vida em pausa. De figurativo, o quadro acima intitulado Strategy (South Face/Front Face/North Face). Trata-se de uma obra da pintora Jenny Saville, com a qual tive meu primeiro contato em 2004 durante minha passagem por Londres. Ainda tenho nítido na memória uma de suas pinturas em óleo denominada Torso2 que estava ou ainda está em exibição na Saatchi Gallery. Porém, nenhuma obra dela compara-se com a mostrada aqui querido leitor amigo para representar minha ânima. Diferente da pintura, as minhas feridas irão cicatrizar. Estou cicatrizando e faço isto não só por mim. Tenho um destino e um lugar certo. Vou voltar a ser feliz, vou deixar de ter medo, pois não estou sozinho.

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