8.08.2010

Pausa inacabada


Coisas Acabadas
"Dentro do medo e das suspeitas,
com mente agitada e os olhos aterrados,
fundimos e planejamos o que fazer
para evitar o perigo
certo que desta forma horrenda nos ameaça.
No entanto equivocamo-nos, não está esse no caminho;
falsas eram as mensagens
(ou não as ouvimos, ou não as sentimos bem).
Outra catástrofe, que não imaginávamos,
brusca, torrencial cai sobre nós,
e desprevenidos - como teríamos tempo - arrebata-nos."
Kavafis
***
Desprevinido abri a porta e na confusão encontrada dei falta das coisas todas que iriam abrir-me novamente as portas do mundo. Imensa castástrofe, tão grande quanto a de Kavafis e também não imaginada. Juntamente com tudo que era meu - letras, tese, memórias, computador, sonhos - levaram o meu passaporte. Pensei que iria partir para outra terra, sobrevoar o oceano, chegar em outra cidade. Chegar na hora marcada. Desilusão. Furtaram o meu presente, mas não destruíram meu futuro. O luto é para cada esforço, cada letra, cada frase do meu trabalho apagado. Jogado por ai sem valor, dizimado. Neste pequeno recanto em que me escondi não há partida. Lugares novos não vou encontrar, não encontrei aqui outros mares. Nesta cidade fui obrigado a ficar. Perambular de volta pelos caminhos - os mesmos -, errante passeio. Para onde quer que eu olhe, para onde quer que siga tudo me é gris e estagnação. Cada esforço agora e para repetir passos há muito dados e me entregar. Não estragar anos. Ironia, na véspera da minha viagem, invadiram a minha morada e levaram mais do que meus pertences. Violaram os meus sonhos, rasgaram minha passagem e enterram meu coração. Nunca havia sofrido violência alguma nesta terra e ainda não sei bem ser vítima. De concreto, o Boletim de Ocorrência No. 5125/2010 emitido no 5o. D.P. na Aclimação e minha vida em pausa. De figurativo, o quadro acima intitulado Strategy (South Face/Front Face/North Face). Trata-se de uma obra da pintora Jenny Saville, com a qual tive meu primeiro contato em 2004 durante minha passagem por Londres. Ainda tenho nítido na memória uma de suas pinturas em óleo denominada Torso2 que estava ou ainda está em exibição na Saatchi Gallery. Porém, nenhuma obra dela compara-se com a mostrada aqui querido leitor amigo para representar minha ânima. Diferente da pintura, as minhas feridas irão cicatrizar. Estou cicatrizando e faço isto não só por mim. Tenho um destino e um lugar certo. Vou voltar a ser feliz, vou deixar de ter medo, pois não estou sozinho.

2 comentários:

Anônimo disse...

“Hay, no obstante, que ser fuerte;
Pasar todo precipicio
Y ser vencedor del Vicio,
De la Locura y la Muerte”
(Rubén Darío)

Unknown disse...

Ale , um forte abraço para ti recuperar as energias.

beijo

Roberto

aqui tem mais do mesmo

Blog Widget by LinkWithin