Céus! Sentia algo escapando pelas mãos. Sentia escapando por outros lugares também. Nuns cantos escapava lentamente no inicio, noutros jorrava tudo aquilo que vivia nele. Seu eu corria para fora feito água. Enxurrada de vida. Tentou segurar o que era seu, prender dentro de si o rio que sonhou ser, era. Tentou até beber-se. Aforgar-se em si. Engolir tudo de volta, mas era tarde. Outros já o haviam bebido. Seu rio quase secou. Nem tudo se foi, apenas o suficiente para lhe causar falta. Bocas sedentas beberam até secar sua nascente. Amava a liberdade das águas, amava a idéia de se achar rio. Amava a certeza de achar-se seu. Afinal, era seu sim todos os seus eus. Seus e de ninguém mais. Este é o problema de amar coisas livres e muitas, são vivas e cheias de vontades e movimentos. Meandros. Muitos seus, outros não tanto. Muitos eus são seus porque assim o são, outros – aqueles secretos – nem tanto. Uns rios, outros leito seco esperando a chuva que nunca volta. Chão
3 comentários:
Ai, o amor
Jamais foi um sonho
O amor é feroz
Faz em nós
Um estrago medonho
(Chico Buarque)
Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime: quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja.
Homem, é igual aos deuses.
(Ricardo Reis)
Não se acha leões em águas
Pare de olhar para o rio
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