Na mão a faca. A ponta tocou o peito e fez o primeiro corte. Com toda força do mundo continuou cortando, aprofundando lâmina e sangrando. Rompeu o externo. Arrebentou a caixa torácica e procurou entre sangue e costelas o coração. Ainda batia forte quando do peito arrancou. Nele procurou por algo, vasculhou as cavidades, cada válvula e artéria. Procurou nos músculos rompidos e nas veias abertas e nada encontra. Estava escondido. Bem no fundo do órgão encontrava-se enraizado o passado que se fazia presente. Com lágrimas nos olhos e ardor no nariz, foi rompendo as amarras, cortando os ligamentos. Um por um os soltava até que, puff, soltou a massa amorfa por inteiro. Olhou ao redor e viu a fogueira que anteriormente havia preparado com sonhos e desejos. Caminhou com a pouco força que lhe restava nas pernas e antes que a dúvida tomasse conta das suas vontades atirou ao fogo o pedaço que um dia lhe foi o mais importante. Feliz descobriu que viveu uma mentira. O fogo o libertou para o presente e nele um leão.
Um comentário:
Só não é dele a tua tristeza.
Tristeza dos que perderam o gosto de viver.
Dos que a vida traiu impiedosamente.
Tristeza de criança que se deve afagar e acalentar.
(A minha tristeza também!...)
Só não é dele a tua tristeza, ó minha triste amiga!
Porque ele não a quer.
(Manuel Bandeira)
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