Algo nele crescia e todo o resto em sua volta o incomodava. Os cheiros, as cores, os gostos, as palavras e todas outras coisas que existiam. Nada era o mesmo. O mundo ou ele tinham mudado. Quiçá ambos, não o sabia e nem lhe importava saber. Sabia porém que algo tinha virado outro, virado coisa nada familiar. Ao mesmo tempo, tudo que conhecia continuava lá, no mesmo lugar. As coisas não estavam fora de ordem, mas existia um descompasso inexplicável. Algo que podia ser apenas sentido. Este algo continuava a crescer. Primeiro tomou os vazios. Depois, ganhou força e ocupou outros recantos. Separou carnes, rompeu vasos, abriu miolos e caminhos. Ocupou o espaço das coisas perdidas. Em seguida, o das coisas esquecidas, das coisas amadas e das coisas guardadas. Cresceu novamente e cresceu tanto que ocupou o presente. Não existia nele mais a memória recente e nem o agora. Só lhe restou o futuro. Projetou tudo nele, uma outra infância, um novo crescer, uma outra pessoa, uma vida inteira futura. Segurou-se no futuro enquanto pode. Aquilo que cresceu era forte e continuava crescendo. Cresceu, cresceu, fortaleceu-se, ficou mais forte que a esperança. Por fim, engoliu o amanhã.
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