6.27.2010

Descuidado

Será que a felicidade realmente acontece apenas quando temos o controle da situação e competência para satisfazer nossas vontades? Felicidade, então, é meramente uma questão de desejo? Desejar o possível? Na minha praia academia, os utilitaristas colocam o valor ou o objetivo da felicidade para a sociedade como o esforço para que ela garanta “a maior felicidade para o maior número”. Entretanto, a criação de tal felicidade continua a ser uma eternal questão filosófica e cercada de blablablas. Diferentes filósofos propuseram as respostas mais variadas para essa pergunta. Então felicidade é única e só minha, não divido o seu sentir nem seu entendimento? Porém, a única coisa que a maioria das respostas filosóficas - pelos menos aquelas que passaram por mim em letras, conversas e ressacas - parecem ter em comum é o fato de que todas elas são tão vagas ou ambíguas que vocês nós não podemos testá-las na prática. Na medida em que algumas dessas visões utópicas da sociedade ideal ou modo de vida, geralmente, acabam por ser desastrosamente erradas. A minha vida não pode ser generalizada, seria o caos. Seria viver a vida "Being John Malkovich". Então, com um sorriso na cara, neste exato momento fujo de Kaufman e vou para os irmãos Wachowski. Lembro do Agente Smith, em o primeiro Matrix, ao explicar para Neo os insucessos em recriar o mundo virtual ideal ou feliz para os “humanos-baterias” e a instabilidade que disto acontecia. Não podemos ser felizes como um todo. Somos insatisfeitos ou infelizes por natureza? Felicidade então é comparativa e eletiva. Escolho ser feliz em detrimento da sua? Afinidades eletivas. Somos pares ligados por atrações inevitáveis? O interesse nasce do jogo de polaridades, encantamentos e repulsas que se estabelece entre os felizes e infelizes? Oh, Goethe! O meu é maior que o seu? Por que o seu é maior que o meu? De qualquer forma, utilitarista ou não, real ou não, pouco ou muito. Eu sou feliz. Eu estou feliz hoje. Acordei feliz. Aos poucos, descubro que sou feliz e não preciso magoar alguém para isto ocorrer, não preciso ser melhor que o outro, não preciso do outro. Só preciso ser honesto comigo. Defender os meus limites, dizer não ou não dizer nada. Viver, seguir minha rotina e ter certeza que a felicidade não mora ao lado, mora dentro. Acima de tudo, eu sei que posso te fazer feliz porque sou descuidado. A minha certeza é a do Rosa e a "Felicidade se acha é em horinhas de descuido". Vem ser descuidado comigo, vem?

4 comentários:

Anônimo disse...

Pessoa/Reis, por vezes, é inevitável:
"Para ser grande,
sê inteiro"

Anônimo disse...

“Co a verdade ilusões se desvanecem
Qual foge o triste mocho à luz do dia”
(Bocage)

Lelle disse...

Seu Doutor, pode ser pretensão minha, mas o inevitável acima hoje se faz verdade em mim. Sinto-me inteiro por hoje e basta. Não esquecendo de agradecer Bocage.

Anônimo disse...

E viva esta língua que nos permite estar sem ser, ser sem estar e ser e estar ao mesmo tempo. Você me lembrou Caetano: "Gosto de ser e de estar". Para sentir-se inteiro, há de se estar e ser inteiro! Há de se querer bem. Há de se merecer. Fico feliz que haja pessoas assim no mundo. Isso me faz ainda crer no ser humano... Obrigado.

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