6.02.2010

Clark é quente

Ao levantar, em um canto pequeno do meu ego, algo gritou “Picasso”. Seguindo suas palavras coloquei as mãos dentro da cabeça e tentei – com muito esforço – arrancar meu cérebro e todo qualquer pensamento racional que me afasta dos medianos. Queria clarear qualquer resto de massa cinzenta e ir viver entre eles. Pensar o sentir é um peso que não quero mais. Queria arrancar os miolos e viver apenas com os olhos. Ser moldura neste espaço pictórico que é a vida, me confundir com cores, invadir o outro. Ser moldura e tela, ser obra por completo. Sua obra, meu mundo. Hoje, sou a linha orgânica de Lygia Clark, não sou a pintura fechada nela mesma, sou aquilo que se expande separando o espaço, se reunindo nele e se sustentando como um todo. Hoje levantei sozinho e ainda pairam sobre o cérebro-intacto – aquele não arrancado – palavras vazias. Porém, diferente do ontem, estou expandido e sou mais. Eu sou quente. Na tevê, SARABAND. Nostalgia. Na minha cabeça, o nada. Sou nada e, ao mesmo tempo, muito. Sou para poucos.

4 comentários:

Ju disse...

u AAAAAAAAaaaaaaaaaauuuuuu!!!!!!!

ANGELA R. disse...

certamente os primeiros passos intelectuais também foram partilhados em terra firme de Bela Vista... lá tudo era previsível mas numa moldura que nao admitia borrões, pingos e traços adicionais.... o sossego nos tornava mais amigos de nosso cérebro? ainda nao sei... o certo é que saímos, ignorando nào só os limites da tela como os nossos próprios...isso tem o seu preço....já dizia Fernando Pessoa "pensar é estar doente dos olhos"... então, apenas contemple aquilo que te apraz, independente de fazer parte do que vê...
beijo com carinho,
Angela Rodrigues.

Anônimo disse...

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
(Desculpe o poema longo, mas sempre associo Ligia Clark a Ferreira Gullar... ainda não entendi por que?)

Ju disse...

CLARKQUENTE ESTOU COM FRIO !!!!!!!!!!
HUHUHUHU.....

aqui tem mais do mesmo

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